Mais de 200 estrangeiros aguardam, no Acre, autorização da Polícia Federal para entrar no Brasil.
O Acre é a porta de entrada mais acessível pela interligação terrestre com o Peru que, além de manter acesso rodoviário com o Equador (país de fronteira totalmente aberta), possui portos internacionais. A chegada dos grupos de haitianos ao Brasil desde o fim do ano passado chamou a atenção principalmente da população dos estados do Acre, Amazonas e Pará, locais escolhidos para entrada ou passagem para outros destinos. Alguns setores da socie-dade, em seu primeiro impulso, tentaram barrar a entrada dos estrangeiros com argumento de oferecerem risco à segurança e ao equilíbrio econômico do Estado.
Na avaliação do secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos Henrique Corintho, os haitianos que chegam pelo Acre querem ficar no país. Os que se aventuram por Manaus pretendem chegar à Guiana Francesa. Ele calcula que cerca de 600 estrangeiros (em sua maioria haitianos) tenham passado pelo Estado. A situação deveria receber intercessão do Governo Federal, que até agora não se posicionou oficialmente sobre a imigração crescente deste povo. O Ministério Público Federal emitiu duas recomendações para que os haitianos recebam visto de refúgio após a realização de uma audiência pública que reuniu representantes de organizações governamentais e sociais de defesa dos direitos dos imigrantes.
O secretário lembra que o Haiti sofre as conseqüências econômicas e estruturais de terremoto em 2010 que destruiu o país e repercute em situações de extrema miséria, desemprego, fome e fuga de mão-de-obra especializada. O número de analfabetos entre os que já receberam o visto é muito baixo. Há professores, advogados, arquitetos, engenheiros, mestre de obras, trabalhadores da construção civil. Parte desses primeiros grupos que chegaram ao Brasil seguiram para os estados de Rondônia, Minas Gerais e São Paulo. “São os haitianos com dinheiro e formação que conseguem sair do país. Por isso há este receio de que esteja acontecendo o fenômeno de fuga de cérebros daquele país”, diz Corintho.
É o caso de Waly Ceid, 26 anos, que estava no último ano de Engenharia Civil quando ocorreu o terremoto. Ele foi o primeiro haitiano a chegar ao Acre e receber o visto para permanência, que deve ser renovado a cada três meses. Foi através da internet que Ceid soube que o Brasil mantém a tradição de fronteiras abertas. Antes de se arriscar na viagem em que teria que cruzar quatro países tentou obter o visto por via legal. Sem expectativa de trabalho e de renda em seu país, decidiu deixar para trás a mãe e oito irmãos. Com ele vieram dois outros amigos que atualmente trabalham como pedreiros na obra de um prédio no Centro de Rio Branco e recebem um salário mínimo.
A região está sendo alvo da ação de quadrilhas e indivíduos que exploram imigrantes ilegais, mas os dois haitianos negam que tenham contratado “coiotes” para chegar ao Brasil. No ano passado a PF havia prendido 8 imigrantes ilegais também de Bangladesh e localizou, em Rio Branco, um homem que realizava a atividade no Acre, bengali casado com uma brasileira.
Fonte – Jornal Agazeta