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“A agricultura é necessária para desenvolver a nossa região”, diz secretário Erni

Quando o caçador-coletor homem da caverna enterrou algumas sementes, a humanidade, dali em diante, passaria a conviver com a agricultura. Assim, milênio após milênio, passou a fazer parte da história do homem. Das antigas civilizações, passando pela a Idade Média, Moderna e Contemporânea, o setor primário sempre foi vanguardista. Nenhum povo ou nação atingiu etapas de desenvolvimento sem investir maciçamente neste setor.

O Brasil, mesmo fazendo parte do Novo Mundo, tem parte considerável de seu PIB oriundo do agronegócio. De dimensões continentais, o nosso território tem as condições naturais para se tornar a maior potência mundial na produção e exportação de alimentos. Esse caminho é quase inevitável e já pode ser percebido na expansão das nossas fronteiras agrícolas.

O Acre, por sinal, é o único estado da federação que ainda não entendeu o quanto esse setor é estratégico. Saímos do combalido extrativismo para o nada. O saudoso economista e escritor, Celso Furtado, defendia que a agricultura chegasse aos rincões para desenvolvê-los de forma exógena (de fora para dentro), ou seja, do interior para os grandes centros urbanos.

Assim dizia o velho mestre: “Se tivermos uma grande produção agrícola, nos alimentaremos melhor e o excedente vai para a exportação”. Óbvio que Furtado formulou uma bem definida cadeia produtiva, chamando-a de autodesenvolvimento ou agroindustrialização.

A ausência de uma política agrícola e as enormes restrições ambientais fizeram do Vale do Juruá uma região ainda mais singular. Temos topografia, solos e microclimas diferentes, além, é claro, de um agricultor trabalhador. Concentrando cerca de 30% da população na zona rural, o município de Cruzeiro do Sul se destaca, além da beleza natural, na produção de algumas culturas como a banana, a mandioca, alguns cítricos e a piscicultura.

No cargo desde o início da primeira gestão do prefeito Vagner Sales (PMDB), o secretário de Agricultura e Abastecimento, Erni Dombrowski, 50, é uma espécie em extinção nestas paragens. Formado na primeira turma de Agronomia pela Universidade Federal do Acre (Ufac), ele, que nasceu em Santa Rosa (RS), acumulou conhecimento intelectual, experiência na área e tem um jeitão simples que muito o identifica com o homem do campo.

Quando assumiu o cargo, o prefeito deu autonomia para Erni montar sua equipe. “Se não fosse a vontade política e social do prefeito, a gente não tinha chegado até aqui”, declarou ele. Depois de herdar uma pasta desestruturada e com profissionais desmotivados, o secretário sabia que ai ter muito trabalho. “Fizemos um planejamento, definimos prioridades e, depois de quase dois anos, finalmente começamos a executar as nossas metas de trabalho”, lembra ele.

Nesta entrevista, concedida em meio a despachos em sua sala, Erni Dombrowski avaliou o trabalho de sua Pasta e contou um pouco das suas muitas experiências como extensionista, guardião de reservas extrativas e gestor.  Como um trabalho notadamente reconhecido, ele ainda é capaz de proferir esta frase: “eles [agricultores] precisam de muito mais e a administração pretende fazer”. Veja os principais trechos:

Tribuna do Juruá – Por que o senhor foi escolhido para ser secretário de uma Pasta tão estratégica? Pelo o que me consta, o critério não foi político.

Erni Dombrowski Essa é uma boa pergunta e só o prefeito pode responder. Como não tenho vínculos partidários, creio que tenha sido pela minha formação técnica, estilo de vida, experiência e uma enorme vontade de trabalhar por este povo maravilhoso, que me acolheu e acolhe tão bem. O prefeito, inclusive, me deu carta branca para eu montar a minha equipe, independente de quais partidos ou vínculos as pessoas tivessem. Da mesma forma é com as nossas ações. Não estamos interessados se os beneficiados são de partidos A ou B.

Tribuna do Juruá – No tocante às ações para os trabalhadores rurais, por que o senhor diz que o prefeito Wagner Sales tem vontade política e social?

Erni Dombrowski Acho que é pelas origens dele. Desde o tempo de vereador, o Vagner Sales sempre deu uma atenção especial aos agricultores, ribeirinhos e extrativistas. Quem não conhece as dificuldades dessas pessoas? Eu ainda não conheço um administrador que tenha feito tanto por essa classe.

Tribuna do Juruá – O senhor pode citar algumas dessas realizações?

Erni Dombrowski Comecemos dizendo a nossa área de abrangência, que são os projetos de assentamentos, vilas e beiradão dos rios Juruá, Liberdade, Juruá-Mirim e Val Paraíso. Depois de fazermos um levantamento, definimos ações para levar assistência técnica e melhorar o escoamento da produção. Antes, porém, para torna a administração popular e legitimá-la, reativaramos o Conselho de Produção Agrícola Municipal. Além disso, recuperamos o maquinário antigo e elaboramos projetos para aquisições de novos equipamentos e embarcações.

Tribuna do Juruá – E aí vieram as realizações?

Erni Dombrowski – Sim. Através de emendas parlamentares, adquirimos 12 tratores agrícolas com grade aradora, 22 microtratores com implementos, algumas beneficiadoras de arroz, grupos geradores para todas as comunidades com mais de quatro casas, além de mais 08 tratores em parceria com a Embrapa. Para deslocamentos e escoamento da produção, conseguimos 04 caminhões para o transporte alternativo, três camionetes 4×4, além de uma moto. Depois de criarmos um programa de apoio à piscicultura, conseguimos 03 escavadeiras hidráulicas junto ao Ministério de Desenvolvendo Agrário (MDA). Tínhamos apenas 04 barcos para o transporte da produção ribeirinha. Fizemos a aquisição de mais 14, que possuem capacidade de 06 a 10 toneladas. Também levamos, parceria com a secretaria de Bem Estar Social, cursos de corte e costura para comunidades distantes. No tocante à piscicultura atendermos 203 produtores e construímos 284 tanques. Instalamos viveiros na foz do rio Val paraíso, melhorando geneticamente a algumas espécies cítricos, distribuímos mudas de banana mais resistente a pragas, além da distribuição de pintos adaptados à nossa região.

Tribuna do Juruá – O senhor acredita que a agricultura pode trazer desenvolvimento para o Vale do Juruá. De que forma isso pode acontece, pois não existem muitas restrições ambientais?

Erni Dombrowski Não existe nenhum povo ou nação que se desenvolveu sem investir na agricultura. É bem verdade que existem restrições ambientais, que não têm nada a ver com sustentabilidade. Esta é uma necessidade, uma vez que todos os recursos naturais são esgotáveis. Existem tecnologias, mercado, etc, mas falta vontade política dos governos. O Vale do Silício, na costa oeste americana, desenvolve-se no meio do deserto. Eles montaram um parque industrial para empresas de tecnologia no meio do nada. Estamos em uma das regiões de maior biodiversidade de planeta. Podemos criar o Vale Bio, onde empresas das ramos de fármacos e cosméticos possam se instalar. 

Tribuna do Juruá – Jorge Natal

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