“Fui criado na Várzea e tinha minha casa para dormir, mas preferia ficar na rua. Ficava com os amigos na praia do Rio Juruá como qualquer criança pobre do Norte do Brasil. Aos poucos comecei a ler e escrever e me tornei presidente do Bairro da Várzea trabalhando com as pessoas mais carentes”, conta Wagner.
Começou a trabalhar num posto de gasolina e a freqüentar as sessões da União do Vegetal. A transformação do menino de rua foi se operando. Até que há 12 anos resolveu imigrar para a Noruega onde existe uma colônia de cruzeirenses. A primeira juruaense a chegar ao país nórdico há 25 anos foi Alcilene Pinheiro que casou com um norueguês e convidou outros conterrâneos para morarem na cidade de Skien. Atualmente pelo menos 15 famílias de cruzeirenses vivem na Noruega, a maioria trabalhando com serviços gerais como limpeza, pintura, encanamento, etc.
O caminho do sucesso
As apresentações na televisão norueguesa abriram os caminhos para que Wagner fosse convidado a ensinar dança. Grandes hotéis e empresas contratam o seu trabalho para estimular a alegria e o prazer de viver num país que tem um dos mais altos índices de suicídios da Europa. “Através da dança as pessoas melhoram a sua postura, curam problemas de depressão e até mesmo doenças físicas”, lembrou Chinganga.
O professor dançarino tem ensinado para grupos de até 1500 noruegueses. “Agora, estou bem trabalhando e viajando. Venho fazendo um trabalho bonito que mistura dança com terapia. Sai do Brasil e conheci latinos que me ensinaram a dançar salsa. Já sabia dançar, mas foi lá que me aprofundei. Misturei samba e axé com a salsa e comecei a ensinar. Acabei criando uma técnica minha batizada de WF Style. Fiquei muito conhecido com as apresentações que fiz nas grandes redes de TV da Noruega. Acabei participando de dois filmes e dirigi outro. Nesse momento estou captando imagens do lugar onde nasci para fazer o meu segundo filme”, salientou.
A mistura de ritmos latinos com africanos criou uma nova dança muito apreciada pelos europeus. “Também estou ensinando a zumba que é o sucesso do momento no mundo inteiro. Sou o primeiro professor do estilo no Norte brasileiro”, afirmou.
Wagner se casou com uma das suas alunas, a norueguesa Marianne Bergius, de 32 anos, que atualmente é a sua auxiliar. Ela não esconde que sente ciúmes do marido muito popular entre as mulheres. “O trabalho é feito com 80% de público feminino e a gente precisa se acostumar”, conta.
O retorno
Antes de retornar a Noruega o professor de dança estará fazendo alguns works shops para meninos de ruas de Cruzeiro do Sul e também para pessoas idosas. “Quero ensiná-los a acreditem nos seus sonhos e lutarem por eles. Sempre há uma possibilidade de encontrar o caminho para transformar a vida. Por isso, vou ensinar aquilo que aprendi. A dança pode ser uma saí-da para quem está oprimido através da liberação e a apuração dos sentidos. Me sinto realizado por fazer o quê gosto e estar levando alegria para pessoas que vivem num país que na maior parte do ano é gelado”, finalizou.
Fonte – Nelson Liano Jr. Do Jornal Agazeta