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PF prende dono de farmácia e funcionários de saúde por venda de remédios abortivos

A operação foi resultado de mais de 18 meses de investigação 

Na madrugada de hoje (29), a Policia Federal de Cruzeiro do Sul (AC) em conjunto com agentes de Rio Branco, Amazonas e Rondônia realizaram a Operação Parcas. Com o objetivo de reprimir a venda indiscriminada de remédios abortivos, proibidos no Brasil, a policia prendeu proprietário e funcionários de farmácia, funcionários públicos da área da saúde e um proprietário de distribuidora de bebidas.

Setenta Policiais Federais estão envolvidos na operação que deu cumprimento a 6 mandados de prisão, 10 mandados de busca e apreensão e  4 conduções coercitivas. Entre os presos estão Adão Bonfim, proprietário da Drogaria Adamárcia, Abel Farias e Rômulo Lima, funcionários da Drogaria Iracema, Cristiano Alves e Francisco J.Filho servidores públicos da área de saúde, e o comerciante Cleomar Barbosa, proprietário de uma distribuidora de bebidas. As buscas se estenderam por hospitais, laboratórios e outros estabelecimentos comerciais. Os estabelecimentos comerciais foram fechados.

A polícia constatou durante as investigações o furto de uma caixa do medicamento da Maternidade, mas segundo as informações, freqüentemente pequenas quantidades do abortivo também eram extraviadas da sala de parto, ou ainda da farmácia. Os medicamentos apreendidos nas farmácias são de origem estrangeira, vindos da Itália e da Bolívia, sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“A maioria dos medicamentos apreendidos foi Citotec, o principio ativo é o misoprostol, mas também foi apreendido o medicamento Prostokos, que tem o mesmo princípio, a diferença é que ele tem uso permitido somente para unidades hospitalares cadastradas”, relatou  o delegado da Policia Federal em Cruzeiro do Sul, Milton Neves.

A operação teve origem com denúncias baseadas no trabalho de uma equipe de jornalismo investigativo de Cruzeiro do Sul, que apontou diversos pontos de venda de drogas abortivas na cidade. Os acusados vendiam cada comprimido do medicamento pelo valor que variava de R$ 100,00 a R$ 250,00.

“A polícia Federal, aqui em Cruzeiro do Sul, aprofundou as investigações e conseguiu demonstrar e constatar que atrás desse esquema de utilização havia um comércio dentro da rede de farmácias, e até mesmo dentro do sistema hospitalar do município, repassando esse medicamento para pessoas interessadas”, relatou o Superintendente da Policia Federal no Acre, Marcelo Sálvio Rezende.

Durante as investigações, que duraram 18 meses, a polícia conseguiu constatar que houve caso de aborto, inclusive com menor de idade. Em um dos casos a criança foi tirada com 06 meses de gestação, e ainda com vida, mas devido uma insuficiência respiratória acabou morrendo.

Um vereador e um secretário municipal, de Guajará (AM) serão chamados para prestar esclarecimentos sobre possível participação em um aborto de uma menor de 16 anos, com quem um deles estaria se relacionando, além de uma enfermeira da maternidade que também foi intimida a prestar depoimentos.

Das prisões, 05 são temporárias pelo período de 05 dias, podendo ser prorrogado por mais 05. Apenas a prisão do proprietário da distribuidora é preventiva. Com base na análise realizada pela Policia nos próximos dias, eles poderão entrar com o pedido de prisão preventiva para os outros.

A pena para quem vende o medicamento abortivo é incluída no crime de tráfico de drogas, podendo variar de 10 à 15 anos. Os envolvidos, também, vão responder por auxílio ou induzimento ao suicídio, nos casos que forem comprovadas a existência de aborto induzido pelos medicamentos. Segundo o delegado da Policia Federal em Cruzeiro do Sul, Milton Neves, a venda de remédios abortivos pode ter a pena ainda mais rígida do que a do tráfico de drogas.

“São medicamentos na grande maioria sem registro na Anvisa, e de venda não permitida no Brasil, a pena é até mais pesada que a do tráfico”, relatou.

Os Policiais Federais descobriram que nesse período foram registradas cerca de 360 ocorrências médicas decorrentes de abortos na maternidade regional. Dentre as mulheres que teriam abortado estão crianças, de até 12 anos  e adolescentes, entre 13 e 18 anos. Os policiais consideram o número extremamente alto para uma cidade que conta com apenas trinta e nove mil mulheres. Os números levam a constatar que 1% das mulheres cruzeirenses cometem aborto. Há registro do crime cometido por uma menina de 11 anos, que ainda está sob investigação. O número pode ser significativamente maior, uma vez que o hospital somente registra aqueles casos em que houve qualquer tipo de complicação médica.

A Policia Federal realiza agora investigações em busca de descobrir a fonte fornecedora para os acusados de revenda no município, uma vez que todos vendiam as mesmas marcas do medicamento.

“Em relação ao crime organizado a gente percebe que com certeza o grupo estava unido para poder comprar esses medicamentos e revender para essas pessoas. É possivelmente detectar pela investigação que a fonte fornecedora era uma só, agora com o desdobramento da investigação vai ser possível constatar quem seria essa fonte fornecedora para atuarmos nessa parte investigativa”, explicou o delegado da Policia Federal de Rio Branco, Maurício Moscardi.

Para a execução da ação, a PF contou com o apoio logístico do 61º  Batalhão de Infantaria de Selva em Cruzeiro do Sul, além de Servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

 O nome atribuído à operação é uma referência às PARCAS, deusas da mitologia romana: Nona, Décima e Morta. Elas seriam as responsáveis por determinar o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpiter (Zeus) poderia contestar suas decisões. Nona tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho, Morta corta o fio.

Tribuna do Juruá – Vanísia Nery

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