A notícia de que uma menina de nove anos, cheia de vida e expectativas desistiu de viver, ao anular a própria vida causou comoção em Cruzeiro do Sul nessa terça-feira,08. Até agora ninguém encontrou uma resposta lógica ou ao menos palpável que esclareça um ato tão contraditório a lei da vida.
Um misto de reflexões e possibilidades ainda permeam a mentalidade, na tentativa de elucidar a motivação da pequena. Mas, poucos se atentaram as evidências deixadas em todas as partes do cenário escolhido pela menina para concretizar de modo finito e brutal, as sensações infantilizadas de ideal de “Felicidade” e “Decontentamento”.
Uma das possibilidades para tentar explicar essa problemática pode ser interpretada pelo momento em que uma criança se torna “consciente” da diferença entre vida e morte, uma vez que a idéia de morte incentiva a curiosidade da criança, pois, se tudo é ocasionado por um motivo, a morte exige uma explicação peculiar, sendo esta um desejo de viver uma vida plena, ladeada pela sensação de libertação de problemas existenciais que começam a surgir.
Assim, o suicida visa não apenas recuperar o objeto perdido, rebuscando o afeto e a atenção das pessoas significativas de seu meio ambiente. Mas, a procura de afeto é também, de certa forma, enfatizada pela freqüência relativamente pequena de tentativas de fuga do que não mais se pretende ter como permanente.
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, situações envolvendo a prática tem se tornado cada vez mais recorrente na intenção de se encontrar refúgio mediante sofrimentos.
Por isso, as marcas deixadas sempre são as mesmas por todos aqueles que por motivos outros determinam o final de um ciclo. O suicídio pode ser interpretado a primeira vista, simplesmente como conduta destinada a produzir modificações no ambiente familiar de quem executa. Mas, deve ser também observado ainda sob a égide da frustração de uma realidade interior inatingível, compensada na tentaviva de auto-eliminação.
Um obstáculo para a prevenção são os fortes tabus sociais e morais, que dificultam um diálogo aberto sobre como agir perante tal situação, que advém na maioria das vezes de doenças mentais, pobreza, dependência química, desemprego, e conflitos de relacionamentos familiares.
Cabe mencionar que o suicídio não é algo inevitável. Ele pode ser prevenido de muitas formas, já que se relaciona a uma complexa interação de fatores causais. Necessitamos de especialistas e, acima de tudo, da parcela de contruição social, para combater este mal.
Muitos se perguntam se o suicídio não seria um ato de coragem; outros dizem ser um ato de covardia. Entendo que não seja nem um, nem outro, mas, apenas um ato de desespero… um grito de socorro não entendido, que exige de nós não julgamento, mas sim solidariedade antes que o pior aconteça.
Tribuna do Juruá – Da redação