Indefesos e desprotegidos do perigo eminente, centenas de crianças e adolescentes ingressam no mundo sem volta das drogas na região do Juruá.
A peste que destrói vidas por onde passa arrebata também crianças em Cruzeiro do Sul. O uso de drogas está se disseminando entre os pequeninos, que trocam a infância por um caminho sem volta.
Núcleo familiar em farrapos e uma sociedade opressora e desigual. Assim está marcada a contemporaneidade dos novos tempos inseridos nesta sociedade tida como “moderna”, abarrotada de problemas socioeconômicos, que a cada dia arrasa vida de crianças e adolescentes, que por não poderem desfrutar de um “lar,” acabam entrando no mundo das drogas e da criminalidade.
Recentemente, quatro menores foram flagrados na cabeceira da ponte sobre o rio Juruá, cheirando “cola” em plena luz do dia. Um dos adolescentes, de 16 anos portava uma faca. A cola de sapateiro, por ter baixo custo e ser facilmente encontrada, faz com que um número considerável de jovens na cidade faça uso do produto para fugir da realidade massacrante em que estão inseridos.
Em Cruzeiro do Sul também já existem registros de crianças de nove anos fazendo uso da pasta base de cocaína e ainda servindo de mula ao tráfico, seja para ajudar a família ou simplesmente para sustentar o próprio vício. Com as meninas a situação se complica ainda mais, ao passo que na maioria dos casos, maiores de idades as aliciam e abusam sob efeito da droga.
A facilidade de contato com as drogas, seja a conhecida cola de sapateiro ou até mesmo a cocaína, está provocando a entrada de centenas de menores no mundo das drogas e do crime, ocasionando um sério problema de saúde pública, considerando que atos infracionais cometidos por adolescentes sob efeito de entorpecentes são superiores aos demais.
De acordo com a psicóloga Nívea Lima, a entrada de crianças no mundo do crime na grande maioria das vezes tem associação ao uso de ilícitos.
“Os pais possuem vícios que acabam influenciando os filhos. Esses históricos familiares são determinantes na vida de muitas crianças, que crescem sem perspectiva alguma, vivendo na criminalidade sem alternativa”, disse.
Mesmo diante de tão grave problema, o Governo e a Prefeitura ainda não têm estrutura suficiente para resgatar as crianças do vício. O vale do Juruá ainda não possui uma unidade do Caps – Centro de atenção psicossocial – especializado em adolescentes. O que faz com que esta realidade continue e que mais crianças sejam envolvidas em um caminho sem volta, sem princípios e sem ideais.
Tribuna do Juruá – Dayana Maia