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“Vamos fazer de Cruzeiro do Sul uma cidade sustentável”, diz secretária de Meio Ambiente

Ao transformar as pessoas em mercadorias e estimular o consumo, o sistema capitalista se depara com os seguintes problemas: o esgotamento dos recursos naturais e a inevitável necessidade de incluir o meio ambiente na agenda política. O consumo está no centro do debate das questões relacionadas a um modelo sustentável que considera as abordagens social, econômica e ambiental no mesmo nível de prioridade.

Os governos começam a agir para minimizar os efeitos do consumismo desmedido no planeta. Repensa-se, também, os gastos desnecessários, na qual o sistema se utiliza de métodos exploratórios que desrespeita as sociedades, culturas e o meio natural, com o único propósito de manter cada vez mais a indústria produzindo e a sociedade consumindo.

 A inovação e a tecnologia, infelizmente, são temas persistentes na agenda atual da grande mídia. Mas não deixa de ser estranho constatar que uma parcela considerável do conhecimento esteja a serviço do consumo. O conhecimento deveria estar a serviço da sociedade, afinal de contas, foi esta mesma sociedade que permitiu a formação da maioria dos cientistas.

O elevado volume de produtos supérfluos e mesmo os não supérfluos, mas com elevado grau de descartabilidade, assusta-nos, principalmente quando imaginamos que tudo isso foi produzido a partir da extração e transformação de matérias primas naturais oriundas de fontes não renováveis. O que é pior, transforma-se em lixo rapidamente e são descartados de forma inadequada na natureza.

Com 109 anos de existência, somente agora o município de Cruzeiro do Sul está definindo suas políticas ambientais. Para tornar as decisões mais democráticas e ao mesmo tempo legitimá-las, o prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales, empossou, nesta semana, os membros do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema). “A sociedade não pode mais ignorar esse tema. O nosso slogan é “Trabalho e Cidadania”. Todo trabalho e as conseqüências dele precisam ser sustentáveis para, assim, termos qualidade de vida e cidadania”, disse o alcaide.

Formada em Pedagogia e Administração de Empresas, como especialização em Unidades de Conservação e Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia, a secretária municipal de Meio Ambiente, Maria Francisca Rodrigues do Nascimento, é a responsável pela continuação do trabalho iniciado pelo seu colega Erni Dombrowski. Esse trabalho para alguns é considerado inglório. “Quando perguntam o resultado do nosso trabalho, dizemos que é difícil qualificar e quantificar algo de valores imensuráveis? A gente só sente quando falta”, destacou ela, citando a qualidade do ar, a manejo das águas, entre outros.

A competência técnica e a capacidade de articulação fazem de Francisca uma secretária de destaque. “Pareceria e integração das nossas ações são os nossos mantras. O meio ambiente é uma teia de interligações e ecossistemas. Se degradarmos o meio ambiente, teremos reações em cadeia e, como sabemos, os recurso naturais do planeta estão se exaurindo, como bem disse o ex-vice-presidente americano, Al Gore, no seu filme  “Uma verdade inconveniente”. Em uma das salas da recém-inaugurada sede da Pasta, Maria Francisca recebeu a nossa reportagem e concedeu esta entrevista. Vejam os principais trechos:

Tribuna do Juruá – Secretária, nessa ordem: o meio Ambiente é uma causa, que leva a uma paixão e depois a um compromisso?

 Francisca Nascimento – Quando se tem uma causa, principalmente uma nobre como é o meio ambiente, a gente se apaixona e logo firma compromisso. Sem ser apocalíptica, precisamos acender um sinal de alerta para criarmos um mundo mais sustentável e justo. Precisamos refletir agora como as sociedades irão conviver num futuro próximo sem seus bens naturais. Quem vai pagar a conta ambiental da falta d’água, das mudanças climáticas, da fome, das migrações, dentre outras drásticas conseqüências num futuro próximo? Isto nós sabemos que será a sociedade, a mesma que está pagando pela inconseqüente e irresponsável crise econômica dos governos nos EUA, na Europa e em diversas partes do mundo. 

Tribuna do Juruá – Como a senhora analisa a ultra batida frase: pense globalmente, aja localmente? 

Francisca Nascimento – Podemos dizer de outra forma: pense amplamente e aja onde você alcança. A velha história do passarinho que levava água no bico para apagar um incêndio na floresta é um exemplo disso. Embora ele visse um todo bem maior do que seu alcance, ele assumiu a responsabilidade pela sua parte, pela parte que alcançava. Então, para ter o impulso de agir até onde alcançamos e assumirmos a responsabilidade de nossos atos, precisamos perceber suas repercussões no todo, isto é, pensar globalmente e agir localmente.

Tribuna do Juruá – Como começou a sua história na questão ambiental em Cruzeiro do Sul?

 Francisca Nascimento – Tudo é muito novo no tocante às questões ambientais no âmbito do ente Município. Entre 2005 e 2006, foi criada a primeira política municipal de meio ambiente, que só foi efetivada em 2009. O secretario Erni Dombrowski acumulava as Pastas da Agricultura e Meio Ambiente. O desmembramento só aconteceu no ano passado. A partir daí ficou mais fácil efetivar o nosso planejamento estratégico.

Tribuna do Juruá – Quais são os principais gargalhos da secretaria?

Francisca Nascimento – Um deles é a ausência de um quadro técnico de servidores. A nossa equipe é muito boa, mas são todos ocupantes de cargos comissionados, ou seja, estão hoje e podem não estar amanhã. Outro é uma famigerada cota do governo federal, que limita os repasses para os municípios com população acima de 50 mil habitantes. E, por último, aquele já conhecido problema da limitação financeira.

Tribuna do Juruá – Por que a senhora diz que o meio ambiente é uma das prioridades do prefeito Vagner Sales?

Francisca Nascimento – Pelo nível de investimento na Pasta, o apoio ao desenvolvimento das atividades, a sensibilidade para contração dos técnicos, entres outros. Ele tem consciência porque sabe que a questão ambiental permeia as ações de todas as secretarias.

Tribuna do Juruá – O que já se percebe de resultados em alguns trabalhos?

Francisca Nascimento – O envolvimento e a colaboração da população nas atividades afins, a construção da sede própria, a elaboração e execução da política de resíduos sólidos, os trabalhos de educação ambiental nas escolas e movimentos comunitário, as empresas e empreendedores que estão buscando trabalhar respeitando as leis e contribuindo com o meio ambiente e a maior oferta de cursos na área ambiental.  

Tribuna do Juruá – Por que a cidade tem tanto lixo espalhado nas ruas?

Francisca Nascimento – Bem, ainda não implantamos uma coleta seletiva. Às vezes o lixo é mal acondicionado. Os moradores não ficam atentos aos dias do recolhimento, criando acúmulos e todas as conseqüências, ou seja, urubus, ratos, baratas e cães vadios.

Tribuna do Juruá – Mas a cidade é suja. Tem lixo doméstico e entulhos nas ruas, praças e nas várzeas dos rios e igarapés

Francisca Nascimento – O trabalho neste setor é, infelizmente, em longo prazo. Não podemos culpar a população se o poder público não oferece as condições. A questão ambiental é problema de todos. Iremos desencadear várias campanhas de educação ambiental, não obstante à criação de um instituto de educação ambiental permanente. Já estamos levando essa educação aos locais mais remotos do município. Ao um médio prazo, vamos fazer de Cruzeiro do Sul uma cidade sustentável.

Tribuna do Juruá – Jorge Natal

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