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Líderes evangélicos e parlamentares: pacto entre chacais

Relutei muito para não escrever este artigo porque, às vezes, sou contundente demais. Mas acredite, leitor, é por uma boa causa. Com o advento das tais células, que nada mais são do que estratégias de marketing em rede, ou seja, táticas para arregimentar adeptos, criou-se um frenesi e uma conseqüente esquizofrenia no meio evangélico. Aquela forma de organização significava “crescimento”, reconhecimento e prestígio social que tanto se almejava, além de dinheiro, mas muito dinheiro. Igrejas que não tinham uma centena de fiéis passaram a ter milhares.

Os motivos desse grande número de adesões foram e continuam sendo a busca por prosperidade e curas milagrosas. Quanto à primeira, trata-se da figura conhecida da profecia autocumprida: se alguém, mediante conversão em troca da melhoria de vida, em vez de beber e entregar-se à vadiagem, adota hábitos virtuosos e sair em busca de trabalho, tem boas chances de melhorar sua sorte. Já as promessas de cura são bem mais problemáticas. Pessoas simples, presas de grande desespero, são “pescadas” com a promessa de cura para doenças graves e letais como aids e câncer. Aqui, há uma afronta ao Código Penal, que prevê como crimes as práticas do curandeirismo e do charlatanismo.

Mas voltemos às famigeradas células. Elas foram a principal causa do vertiginoso crescimento de algumas denominações, o que, digamos assim, pirou o cabeção de alguns religiosos. Sendo grandes, esses líderes poderiam chegar próximos ao poder. E chegaram. No início deste ano, para ser suscito e ilustrativo, o alcaide de Rio Branco, Marcus Alexandre de Sobrenome Indefinido, que dizem até já ser “convertido”, não entregou a chave da cidade para o diabo e a “festa da carne” ficou restrita aos que tinham dinheiro.

Doações para trabalhos sociais, ônibus para congressos, material de construção, passagens aéreas, dia do evangélico, hospitais, marcha etc., etc. E quem faz a ponte entre esses líderes religiosos e o sistema? Quem? Eles, os parlamentares-pastores, eleitos à custa da pressão, da mentira, da manipulação e de esquemas.

Qual foi o único projeto e/ou intervenção que essa turma fez para beneficiar os desvalidos? Os mandatos são apenas para servir seus próprios propósitos, que não são nada nobres. Obvio que já existiam outros pilantras evangélicos no parlamento. Tem um, inclusive, que já completou três décadas sugando o erário.

Esses parlamentares só se elegeram por causa de uma “aliança” com os líderes de suas denominações. Este precisa daquele para auferir vantagens nada republicanas. Um precisa do outro e o outro de um. É como fosse uma dança frenética sobre o fio da espada de um samurai, porque, de acordo com uma mudança nos vento$, pode haver uma ruptura. É um tênue pacto entre chacais.

PS: Quero fazer um alerta para esses novos mal-intencionados. Cuidados com as autoridades constituídas. Não aquelas que vocês gostam de bajular [governadores, prefeitos, entre outras que possam oferecer algo], mas àquelas que são muito mais legítimas, ou seja, os procuradores, promotores, delegados e juízes, além dos ministros dos tribunais superiores.

Artigo

Tribuna do Juruá – Jorge Natal

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