Chegou ao fim nesta quinta-feira a terceira passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo comando do Flamengo. Desgastado depois de entrar em conflito com a diretoria e com boa parte do elenco, o treinador foi demitido. Nem a vitória sobre o Real Potosí, na quarta, que classificou o time para a Libertadores, evitou a queda de um dos técnicos mais vitoriosos do futebol nacional, o que tem maior número de títulos do Campeonato Brasileiro.
A queda do treinador chegou a ser dada como certa no início da noite de quarta-feira, antes do jogo diante do Real Potosí, pela pré-Libertadores. A informação teria “vazado” aos jogadores ainda na concentração, numa tentativa de a diretoria avisar os atletas que Luxemburgo seria demitido independente do resultado, evitando a possibilidade de um “corpo mole” para derrubar o treinador.
A vitória por 2 a 0 sobre o time boliviano, com boa atuação de Ronaldinho Gaúcho, desafeto de Luxemburgo, acabou segurando o treinador no cargo por algumas horas. Após a partida, em entrevista coletiva, o técnico afirmou que ninguém conversara com ele sobre seu futuro e, como funcionário do Flamengo, ele já pensava no jogo de sexta, contra o Olaria. Patrícia Amorim também negou a demissão e reclamou uma conspiração para prejudicá-la em seu trabalho.
Nesta quinta-feira, porém, com os ânimos pela vitória já esfriados, Patrícia Amorim decidiu demitir o treinador. Além dele, também foram dispensados o supervisor de futebol, Isaias Tinoco, o preparador físico, Antônio Melo, e o auxiliar Antônio Lopes Júnior.
Jogador do Flamengo durante a maior parte da sua carreira como lateral-esquerdo, nos anos 70, Luxemburgo nunca escondeu ser torcedor do Flamengo. O treinador assumiu como treinador rubro-negro pela primeira vez em 1991, depois de se destacar trabalhando no Bragantino. Voltou em 1995, para comandar um elenco de estrelas e, assim como na primeira passagem, não teve sucesso.
Seu retorno à Gávea se deu em outubro de 2010, duas semanas depois de ser demitido do Atlético-MG – ele deixou o time mineiro na zona de rebaixamento para a Série B. O começo no time carioca não foi dos melhores e o Flamengo por pouco não caiu para a segunda divisão ao fim do Brasileirão 2010.
No ano seguinte, porém, tudo mudou. Com Ronaldinho e Thiago Neves no elenco, o treinador engatou uma série de 26 jogos invicto no comando do Flamengo, que foi campeão carioca após vencer os dois turnos do estadual. A primeira derrota de 2011, em maio, porém, custou a eliminação da Copa do Brasil, perante ao Ceará, e o início de uma crise.
No segundo semestre, uma série de resultados negativos entre agosto e setembro deixou o Flamengo longe da disputa pelo título do Brasileirão. Depois de se recuperar a voltar a brigar pela ponta, a equipe encerrou o campeonato nacional de forma vexatória, com diversos resultados ruins. Mesmo assim ficou com uma das vagas na pré-Libertadores.
O ano de 2012, porém, começou muito mal para Luxemburgo e para o Flamengo, em crise por conta dos atrasos salariais, da dívida com Ronaldinho e pela perda de Thiago Neves para o rival Fluminense. Para piorar, o treinador descobriu que o craque do elenco levou uma mulher para a concentração. Cansado dos atos de indisciplina de Gaúcho, pediu a demissão de Ronaldinho e não teve seu pedido atendido.
Credor do clube, o jogador e seu irmão e empresário, Assis, teriam condicionado a permanência de Gaúcho à saída de Luxemburgo. A situação financeira do clube, que atrasou salários, fez com que Luxemburgo atacasse também o vice-presidente de finanças, Michel Levy, acreditando que, assim, pouparia Patrícia Amorim. A presidente, porém, se sentiu atingida e defendeu Levy, dificultando ainda mais a relação entre clube e Luxemburgo. Sem a confiança da diretoria, do principal jogador do time e de parte do elenco, não havia outra saída senão a demissão do treinador, que ocorreu nesta quinta-feira.
Por Leonardo Maia | Agência Estado