A Luta pela sobrevivência de um Pequeno Grande Homem
Virar uma página da vida e buscar um novo começo pode ser tarefa simples aos olhos experientes de um “Grande Homem”, que já conseguiu tamanha proeza. Mas, quando este desafio é acompanhado de dor e revolta, reduzidos em apenas poucos anos de idade, a face dessa mudança pode ser ainda mais complexa e ameaçadora.
Encontrar um ponto de equilíbrio entre o sonho de felicidade e a dura realidade da vida é a chave que muitos ainda idealizam como fórmula perfeita para plena Harmonia. Todavia, encontrar nessa linha tênue, que na maioria das vezes é cortinada por frustrados e supérfluos ideais, não é algo fácil.
Mas, contrariando os próprios paradigmas impostos em sociedade, um menino pobre, de sorriso largo e leveza no olhar decidiu fazer diferente e enfrentar as adversidades de frente e sem medo de errar, apostando em um futuro ainda incerto, mas nem por isso, menos grandioso.
Há cerca de um mês a vida de Luan Lima Pereira, de oito anos se resume dentro de um quarto de hospital. Desde uma fatalidade, ocorrida no dia 05 de novembro, que também vitimou a irmã, o menino busca superar o trauma deixado com garra e força de vontade.
Mesmo sem os membros inferiores, ele demonstra uma força inquestionável. Mas, o desejo de recuperação mistura-se as traumáticas lembranças deixadas pelo brutal acidente que ceifou a vida de Laiane de Lima Pereira Maia.
Até agora ninguém anunciou a morte da irmã ao garotinho que ora em ora reclama da ausência dela nas visitas, e o triste fato de não poder andar.
“Meu Deus porque quebraram as minhas pernas. Agora como vou fazer para voltar a andar. Preciso encontrar Laiane, porque ela não pode me ver”, diz.
Sem uma solução lógica, o menino converte a ausência da irmã em fantasia como um refúgio provisório, compensado na memória pela ideia fabulosa de que a Laiane se transformou em “Bela Adormecida”.
A imaginação do garotinho tenta a todo custo pintar num colorido vibrante, os tons acinzentados, registrados na memória da última imagem tida da irmã, estendida sobre um chão escuro, tingido por um “vermelho cruel”.
Em meio ao drama familiar, marcado pela sensação de que tudo parece perdido, Luan, enquanto um príncipe guerreiro, munido do escudo da “verdade” e a espada da esperança emociona familiares e amigos ao revelar-se um “Menino Homem”.
A história de Luan e Laiane pode não ter o mesmo final feliz de “Bela Adormecida”, uma vez que é o pequeno menino quem deverá despertar frente à história real, ao perceber que para sempre a bela Laiane ficará em sono profundo.
A história apesar de nefasta traz consigo uma mensagem ainda mais profunda. De certo, cabe a nós a forma de lidar com a vida, quando nos é exigido coragem frente a emaranhados espinhos.
Desistir e entregar-se ao sofrimento pode ser, a princípio, a única forma coerente e sensata de ser portar por efeito de determinadas situações, que erroneamente julgamos imensuráveis.
Mas, por que não fazer diferente… já que temos a chance de reconstruir um enredo menos angustiante e um pouco mais imaculado nas asas da esperança de sonhos futuros?
Assim como nunca houve uma noite que pudesse derrotar o nascer do sol, não há um sofrimento que desafaça uma verdadeira esperança de renovação. Por isso, entre viver questionamento os porquês da vida, eu prefiro ser “Luan” mantendo minha esperança, como eterna chama da vida, porque esta sim é a mais difícil e satisfatória vitória que um homem pode alcançar.
Tribuna do Juruá – Dayana Maia