As margens do Rio Tauari, na ponte que liga a BR 364, é o novo endereço de Francisco Lopes, o Chico, seringueiro que em novembro de 1998 ajudou a matar um cunhado, um irmão, dois sobrinhos e o próprio filho de 13 anos de idade. Apesar dos crimes, ele conseguiu ser absolvido pela Justiça.
Os Crimes de Chico, como ficou conhecido o caso, marcaram a cidade de Tarauacá (distante 416 km de Rio Branco). Em nome da religião, ele decidiu acompanhar as ordens de purificação de um falso pastor, Francisco Bezerra de Morais, o Totó.
Chico e outros companheiros deveriam limpar o seringal São Sebastião do pecado, para isso, usaram a força. Várias pessoas foram surradas, levaram pauladas. Seis delas, entre elas duas crianças, morreram. Chico matou o próprio filho, José Francisco Torres, com pedaço de pau.
O Tauari é uma região de mata fechada; as casas dos seringueiros ficam distantes umas das outras, mas a distância não impediu que fanáticos religiosos cometessem barbaridades.
Chico leva a equipe de reportagem de volta ao Tauari. Ele faz questão de mostrar sua nova casa, organizada e limpa.
O garoto de 13 anos era o mais velho e segundo o pai, era o que ele mais gostava.
Ele começa explicando que não lembra detalhes do que aconteceu, nem o que levou a matar o próprio filho. Limitou-se a falar que seguiu as ordens de Totó, que ordenou uma limpeza dos pecados.
“Tudo começou quanto Totó, tirou o pastor Oliveira da pregação. Informou para os participantes que ele e Doca (sua esposa) agora comandariam a igreja e que, de imediato, todos deveriam fazer jejum”, explicou.
Dois dias após o Jejum, começou uma vigília, nesse encontro começaram as ordens para matar. O primeiro foi pastor Oliveira. Bastante machucado ele conseguiu fugir e avisou a polícia. Outros ficaram e perderam a vida.
Chico disse que só participou da morte do filho, nos outros casos, ele não teve culpa. Ele foi absolvido do crime, a defensoria pública comprovou que houve um surto psicótico temporário, não sabia o que estava fazendo.
Chico chegou a afirmar que viu vultos a sua frente, ouvia vozes diferentes, ficou fora de si, e por isso não se perdoa de ter obedecido a ordem de Totó para matar o filho.
“Eu hoje não quero me encontrar com Totó, tenho medo do que posso fazer. Eu perdi um cunhado, um irmão, dois sobrinhos e mais um filho, o Totó não perdeu nada”. Completou.
Hoje, Chico cuida da colônia e de um pequeno comércio ao lado da ponte do Tauari, na BR 364 a 93 quilômetros de Tarauacá. Em determinado momento paramos a entrevista, ele não agüentava mais falar. Começou a chorar e as palavras não saiam mais.
Entre os seis mortos do Tauari estavam duas crianças de 3 e 5 anos. Elas foram espancadas pelo pai, Adalberto Ferreira que depois matou a esposa Maria Luíza Pinheiro, a Branca de 27 anos.
Adailson Oliveira, da TV Gazeta