POR ISRAEL SOUZA
Na reta final desta campanha, Marcus Alexandre (PT) afirmou que esta seria a “semana da alegria”. Para ele, a oposição havia feito da semana passada a “semana da mentira”.
A “semana da mentira” era uma referência aos dias em que a notícia de um suposto caso fora do casamento que o candidato teria com uma moça (casada) tomou conta das redes sociais.
Embora os meios de comunicação convencionais – servis ao governo, financiados e controlados por ele – não tenham feito nenhuma alusão à notícia, ela era ouvida, repassada e discutida nos mais diversos lugares e círculos. E a maneira evasiva com que tanto Marcus Alexandre quanto a “moça” envolvida trataram da questão mais alimentava que sepultava as suspeitas.
Em razão disso, o candidato que estava sendo apresentado como o mais votado de toda a história de Rio Branco, o “novo líder” escolhido pelo povo, tornou-se motivo de chacota em todos os quadrantes da capital acreana.
Isso teve implicações negativas para o “boneco de ventríloquo” (ver Oposição, o talismã do governo) e, para a oposição, significou um escândalo quase providencial. Um amigo petista – convém frisar – me dizia ter votado em Marcus Alexandre no 1º turno. Mas já no 2º… Afirmava não poder “eleger para administrador de uma cidade aquele que não consegue administrar a própria vida”.
Ruim também para as forças governistas foi a divulgação da pesquisa que dava 49% das intenções de votos a Bocalom (PSDB) e 51% ao candidato petista. Tais números representam empate técnico.
Foi por tais motivos que a equipe de campanha da FPA decidiu fazer a “semana da alegria”. Trata-se de uma referência à “quarta da alegria”, dia em que os cargos comissionados eram intimados a fazerem “bandeiraço” em algumas ruas da capital.
O fato significa que esta semana a opressão e a exploração sobre os cargos comissionados foram redobradas. Um professor universitário dizia que, em plena aula, aluno levantou e veio até ele. O aluno pediu ao professor que o “liberasse”, que ele (o aluno) tinha sido ameaçado de ser demitido caso não participasse das manifestações a favor do candidato governista. O professor, percebendo a natureza da situação, liberou o aluno.
Neste sentido, convém dizer que se esta semana representa alegria para alguém, certamente é para Marcus Alexandre, cujos cabos eleitorais são pagos por nós, contribuintes. Os braços que levantam suas bandeiras não lhes custam absolutamente nada.
No entanto, claro está que isso é só parte do problema. Com o crescimento do candidato da oposição nas pesquisas eleitorais, os governistas estão desesperados. E têm muitas razões para isso. Podem perder influência política, cargos comissionados. E sabe-se lá, caso a oposição ganhe este pleito, o que ela encontrará quando abrir a “caixa preta” da prefeitura.
Outro motivo de desespero para as forças governistas é que, se perderem em Rio Branco, a oposição terá em suas mãos as duas maiores cidades do estado, posto já governarem a segunda maior, isto é, Cruzeiro do Sul.
Politicamente, também não ficará bem deixar de “fazer o sucessor” de Raimundo Angelim (PT), aqueles que muitos consideram o melhor prefeito de Rio Branco. Até onde pudemos acompanhar, Angelim foi um prefeito zeloso com os recursos públicos e com as obras, vistoriava-as pessoalmente.
No entanto, em que pesem as virtudes de sua administração, também ela levou a marca da FPA. Esteve voltada para questões cosméticas e, sobretudo, para as áreas centrais.
Não foi sem razão que, recentemente, Rio Branco foi apontada como a penúltima capital brasileira no índice de inclusão social. As periferias continuaram abandonadas e não foi por outro motivo que o Programa Ruas do Povo teve a força eleitoral que teve e ocupou nas propagandas governistas o lugar que ocupou. Depois de anos de abandono, as populações dessas regiões se sentiram lembradas, dignas de algum cuidado do governo, o mesmo governo que as abandonou.
Por uma questão de precisão, é necessário dizer que, em muitos lugares, o referido Programa chegou apenas como promessas, e em alguns lugares aonde realmente chegou causou transtornos (lama, falta de água, buracos abertos e não fechados, entre outros), e os serviços ou foram feitos parcialmente ou precariamente.
Um dos maiores erros da FPA nestas eleições foi subestimar a inteligência do eleitorado. Seus líderes imaginaram que não iam perceber que Vamos juntos fazer o novo, mote de campanha de Marcus Alexandre, expressa cinismo e a confissão de quem andou a fazer o que não devia. Cinismo porque, para o governo, a participação (Vamos juntos) popular só é válida quando é dócil a seus interesses. Fora isso, ou é ignorada ou é reprimida.
Quanto ao “novo”, pode-se dizer que ele expressa a tentativa de “separar/diferenciar” o candidato governista da FPA. Sabem que seu governo é marcado por trapalhadas, escândalos, denuncias de corrupção e despotismo. Não é bom para ninguém ser ligado a essas coisas. Por isso, devem insistir que, ainda que partícipe da FPA, Marcus Alexandre representa algo “novo”, “diferente”.
Fosse possível filho de galinha ser canário, talvez acreditássemos nisso. Como não é, digamos a verdade: o candidato governista não representa nada de absolutamente novo, como nada nem ninguém da FPA pode representar. Ele representa, isto sim, a força política mais reacionária que há atualmente hoje no estado do Acre, mistura de velhos e novos coronéis, de sujeitos que usam o estado segundo a mais velha tradição do patrimonialismo brasileiro. Por isso é que nepotismo e despotismo grassam hoje no território acreano
É por essas e tantas outras razões que cremos que o “realmente novo”, a “mudança positiva” que estamos a ansiar, passa, necessariamente, pela derrota da FPA. Isso não se deve a uma crença nos pendores democráticos das forças oposicionistas. Mas a uma compreensão de que, enfraquecida a FPA, as forças populares poderiam alcançar uma liberdade (de expressão, manifestação, contestação etc.) que hoje não têm.
Além do mais, com a legitimidade em declínio, a FPA tem usado o poder de maneira cada vez mais desesperada e despótica. Diminuir o poder em suas mãos é, portanto, uma necessidade.
Por tudo isso, neste segundo turno, torcemos por uma derrota da FPA. Tendo em vista, em primeiro lugar, não a vitória da oposição, mas o que daí as forças populares podem colher.
Que desta semana de opressão e exploração redobradas possa florescer uma indignação também ela redobrada… Que os cargos comissionados entendam que, mesmo que Marcus Alexandre ganhe, isso não lhes dará garantia de permanecerem em seus empregos. As alianças que ele fez requerem concessões e isso, em geral, envolve cargos. Quem não tem “padrinho forte” pode muito bem está trabalhando para sua própria ruína nesta campanha.
Não esquecemos o que foi feito com o resultado do referendo sobre a hora oficial do Acre… nem esqueceremos…
Israel Souza é cientista político e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO)