“Não existe crime perfeito; apenas bem feito”
A prisão dessa quadrilha na última sexta-feira trouxe à baila um assunto tratado como tabu: existe uma bem montada rede de corrupção no Acre. O desvio de R$ 4 milhões foi constatado em apenas seis contratos. Como sabemos que as empresas envolvidas são responsáveis por boa parte das obras feitas, a investigação vai prosperar e tem uma chance mais do que real de se chegar a mais desvios.
A Polícia Federal não prendeu empresários e agentes públicos quaisquer sem relações uns com os outros. Eles fazem parte do grupo político que comanda o Acre desde 1999, quando se iniciou o primeiro governo do Jorge Viana. Não é só o sobrinho que embaraça os irmãos Viana. O secretário de Obras, Wolvernar Carmago, o Veá, para os íntimos, é secretário desde a gestão do Jorge Viana quando ele foi prefeito de Rio Branco.
O empresário Sergio Nakamura, que foi secretário dos Viana na prefeitura e no governo do Estado, é dono de uma construtora com presença dominante nas obras do Estado, a Ábaco Engenharia. Apesar de ser condenado na Justiça Federal a devolver mais de R$ 25 milhões desviados dos cofres públicos, ele participava do esquema como subempreiteiro, uma vez que a sua razão social e o próprio nome são sujos na administração Pública.
Não cabe ao bom jornalismo enveredar por ilações. No entanto, façamos algumas perguntas: quem são empresas que mais financiaram as campanhas petistas? Quem são os dois homens de confiança e melhores amigos dos irmãos Viana? Se não fosse a intervenção da PF haveria a exposição desse famigerado esquema?
Alguns desses fios começaram a ser “descapelados” em 2010, quando o Ministério Público Eleitoral pediu a cassação do governador Tião Viana por abuso de poder político e econômico, citando vários dos personagens que foram presos na Operação G-7, ou seja, os fios começam a ser interligados.
Quem é Narciso Mendes Júnior?
Para iniciar, como o próprio sobrenome sugere, é filho do ex-deputado Narciso Mendes, dono do complexo de comunicação O Rio Branco e de inúmeras empresas, além de ser o principal conselheiro político do governador Tião Viana. Narcisinho, como também é conhecido, não é agraciado apenas com obras para a sua empreeiteira, a CIC.
Desde 2009, quando algumas unidades de saúde terceirizaram alguns serviços e radiologia e imagens, ele e Thiago Viana Paiva, sobrinho do governador e diretor de Analise Clínicas da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre), montaram uma empresa que presta esses serviços.
Os sócios, que estão presos na“Papudinha” desde sexta-feira, usurpam prestígio e traficam influência em outros setores do governo. “Imaginem essa dupla: um é sobrinho dos todo-poderosos irmãos Viana. O outro é filho do homem que se jacta em afirmar que todo governador tem que lhe dá a benção”, comentou um observador político.
O esquema de desvio de dinheiro do SUS
A empresa de Narcisinho e Thiago, o Centro de Medicina Diagnóstico Ltda, foi a vencedora de uma licitação no ano passado. Foi contratada por R$ 2,6 milhões para realizar radiologia médica, com atividade em diagnósticos por imagem e tele-radiologia, além fazer a implantação do sistema de digitalização de imagens radiológicas no Hospital Geral das Clínicas (antiga Fundhacre) e Centro de Controle de Oncologia do Acre (Cecon), bem como ser responsável pelos laudos médicos dos respectivos exames.
De acordo com a PF, conversas interceptadass provam que houve direcionamento do processo licitatório em favor da empresa, que contou com a participação decisiva de Tiago Paiva e Narciso Junior, responsável, de fato, pelo Centro Medicina Diagnóstica Ltda. O sobrinho do governador chegou a ser nomeado gestor para atuação no pregão presencial, com responsabilidade para emissão de laudos.
A PF diz que existem fortes indícios de que a empresa, ao começar a prestar os serviços, utilizou-se de expedientes criminosos para causar prejuízo ao erário, pois emitiria laudos de exames clínicos de forma desnecessária.
Tiago Paiva foi indiciado pela PF por formação de quadrilha e fraude à licitação. O indiciamento de Narciso Júnior é por corrupção ativa, falsidade ideológica, peculato, formação de quadrilha e fraude à licitação.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal