“Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou refletir”. O fragmento do texto de Michael Foucault é bem sintomático para o que pretendo abordar. Óbvio que mutilarei o pensamento desse brilhante intelectual, aliás, um dos melhores do século passado.
A deputada ainda não percebeu o quão necessário é a sua tomada de decisão. Não para se eleger isso ou aquilo outro, mas para se fazer uma necessária mudança de rumos, uma reinvenção da política local, que é só possível com a mobilização das ruas e novas posturas de políticos verdadeiramente republicanos. A sua cômoda posição, deputada, soa covardia e oportunismo.
Há mais de uma década, fiz essa mesma proposta para a então senadora Marina Silva e o Toinho Alves. Disse que aquele (esse) governo era (é) um destrate, uma coisa muito ruim para o povo acreano. Eles não me ouviram e hoje pagam o preço pela covardia. Cadê Toinho? Por que Marina tem tanto desprestígio com a sua gente? Aqui está a resposta: eles não se desvencilharam desse atual projeto de poder, que é comandado pelos os irmãos Viana.
Nove de cada dez brasileiros dizem que política é coisa de bandido. Neste momento de descrédito das instituições e da classe política, a senhora, que tem uma história ligada às lutas populares, está de que lado? Ou melhor, vai ficar de que lado? Sinceramente, não sei qual será o seu discurso, caso seja candidata a algum cargo majoritário.
Serei mais objetivo: com que moral a senhora vai pedir o voto dos acreanos, estando no mesmo palanque do G-7? O que senhora vai propor para os jovens desempregados, que estão sendo tragados pelo consumo e tráfico de drogas? O que a senhora vai dizer para os pequenos agricultores, que foram perseguidos e massacrados por esse governo facínora? O que a senhora vai propor para tirar a economia acreana dessa situação de penúria? A senhora vai sair em defesa de algumas poucas instituições que o PT tanto ataca?
O escritor Gabriel Garcia Marquez diz que os seres humanos se tornam iguais quando se entreolham. Não sei, minha cara, como irás fazer isso. Quero-lhe fazer mais uma pergunta: para que serve a política? Difícil resposta, né deputada? É não. A política é apenas para retornar aquilo que é das pessoas. Surgiu da necessidade de dialogar e de equacionar interesses.
Para participar dela, no entanto, é preciso ter grandeza, espírito público e causas para defender na sociedade. É uma arte e vocação feitas para homens e mulheres grandes. É uma atividade nobre para expor e debater ideias. A imensa maioria dos políticos não defende a coletividade. Daí a frustração e indignação da população.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal