Com muita alegria os internos da Associação de Pais e Amigos dos Dependentes Químicos (Apadeq) receberam na manhã da última sexta-feira (28) no prédio da instituição a juíza da 1ª Vara Criminal Dr. Ana Paula Sabóia e o promotor da 1ª Vara Criminal Dr. Washington Moreira.
As autoridades visitaram pela primeira vez a instituição, e se surpreenderam com a estrutura oferecida aos dependentes químicos em tratamento. Atualmente o Poder Judiciário e o Ministério Público mantém uma parceria com a Apadeq, encaminhando reeducandos envolvidos com álcool ou outras drogas para a realização de um trabalho de reintegração junto à sociedade.
“Eu vim aqui para renovar minhas esperanças, minha esperança nos nossos irmãos que por qualquer motivo violaram a lei. Eu acredito que o sistema penitenciário deve existir, assim como as penas pequenas, grandes, todo o sistema, mas muito mais do que punir nós temos que ressocializar. Ninguém quer ser do mal, ninguém quer transgredir a lei, a vida que levou a isso”, relatou a juíza Drª Ana Paula, ao afirmar que 95% dos réus que ela julga em Cruzeiro do Sul, estão envolvidos com bebida, com droga ou com os dois.
A juíza acredita que essas pessoas não estavam sozinhas no momento dos crimes, havia ainda a existência da droga e da bebida, que também deveriam está sendo julgadas. “Para o juiz e para o promotor não é agradável dar pena, a pena é necessária, a gente quer dar esperança, e o Branco tem sido essa pessoa que tem mostrado para nós qual o caminho, e por mim eu encheria aqui de reeducandos”, disse a juíza.
A visita teve o objetivo principal de supervisionar os internos que foram encaminhados pela justiça e conhecer a forma de trabalho da instituição. O promotor e a juíza conheceram as dependências da instituição e em seguida participaram de uma solenidade junto com internos, onde foram apresentados louvores e manifestados sentimentos e emoções. Um dos internos, antes reeducando, agradeceu às autoridades pela oportunidade de ressocialização que teve junto à instituição. O promotor Drº Washington também expressou seus pensamentos em relação à parceria existente.
“O trabalho da Apadeq aqui é de vital importância para nossa finalidade institucional. O estado, seja através do Poder Judiciário ou do Ministério Público, ele só atua ou deve atuar em ultimo caso, quando a família falhou, quando a sociedade falhou, aí sim, vem o Estado por meio da repressão aos crimes, e outras ações na justiça. E a atuação da Apadeq nos alegra pois vemos que a sociedade esta tentando agir, está tentando atuar antes que o estado precise reprimir. Isso para nós é de fundamental importância.
Durante o evento a Drª Ana Paula anunciou para os internos que está desenvolvendo um projeto de realização de um Júri Simulado dentro da instituição, onde os próprios internos atuarão como jurados, juiz, promotor, defensor, advogado, e o réu será a bebida.
“ Vai sentar no banco do réu aquele que eu acho que deve está sentado lá, que é o ato de beber. O advogado de defesa vai defender quem vende, quem fabrica, quem transporta a bebida, já o promotor vai mostrar o sofrimento da mãe, o sofrimento da esposa que apanha pelo homem que ta bebido, a mãe que teve um filho morto por conta de outro que estava bebido. E assim mostrar para eles o malefício que a bebida faz e não entrar novamente nesse erro”, falou a juíza.
O presidente da Apadeq, Raimundo Felício, o Branco, expressou a alegria em receber o promotor e a juíza na instituição e ter a parceria com o judiciário.“É um sentimento e uma sensação ao mesmo tempo do dever cumprido. O Judiciário e o Ministério Público se aproximam da Apadeq a cada dia, isso já é uma parceria ao longo dos anos pelo trabalho prestado pela Apadeq. Os magistrados e o Ministério Público, eles não são tendenciosos apenas a condenar, mas também a inserir de volta na sociedade, aqueles que se envolveram em uma delinqüência, sendo influenciados pelo uso e abuso de entorpecentes, lícitos ou ilícitos”, explicou o presidente ao dizer que foi anunciado ainda durante a visita uma nova parceria entre as instituições, oferecendo 20 vagas anuais em cursos profissionalizantes para internos e ex-internos por meio do Poder Judiciário.
Tribuna do Juruá – Vanísia Nery
