Um caso de superação. Wagner Figueiredo, de 39 anos, nasceu no Seringal Montreal, no Baixo Juruá. Veio ainda criança para Cruzeiro do Sul para morar no bairro da Várzea. Vivendo num lugar pobre e com muitos problemas sociais, Wagner se envolveu com gangues de adolescentes e ficou conhecido na cidade como Chinganga. Era um menino de rua temido pelos rivais por suas habilidades de luta. Mas aos poucos Chinganga percebeu que precisaria trilhar novos caminhos para encontrar um futuro melhor.
“Fui criado na Várzea e tinha minha casa para dormir, mas preferia ficar na rua. Ficava com os amigos na praia do Rio Juruá como qualquer criança pobre do Norte do Brasil. Aos poucos comecei a ler e escrever e me tornei presidente do Bairro da Várzea trabalhando com as pessoas mais carentes”, conta Wagner.
Começou a trabalhar num posto de gasolina e a freqüentar as sessões da União do Vegetal. A transformação do menino de rua foi se operando. Até que há 12 anos resolveu imigrar para a Noruega onde existe uma colônia de cruzeirenses. A primeira juruaense a chegar ao país nórdico há 25 anos foi Alcilene Pinheiro que casou com um norueguês e convidou outros conterrâneos para morarem na cidade de Skien. Atualmente pelo menos 15 famílias de cruzeirenses vivem na Noruega, a maioria trabalhando com serviços gerais como limpeza, pintura, encanamento, etc.
O caminho do sucesso
As apresentações na televisão norueguesa abriram os caminhos para que Wagner fosse convidado a ensinar dança. Grandes hotéis e empresas contratam o seu trabalho para estimular a alegria e o prazer de viver num país que tem um dos mais altos índices de suicídios da Europa. “Através da dança as pessoas melhoram a sua postura, curam problemas de depressão e até mesmo doenças físicas”, lembrou Chinganga.
O professor dançarino tem ensinado para grupos de até 1500 noruegueses. “Agora, estou bem trabalhando e viajando. Venho fazendo um trabalho bonito que mistura dança com terapia. Sai do Brasil e conheci latinos que me ensinaram a dançar salsa. Já sabia dançar, mas foi lá que me aprofundei. Misturei samba e axé com a salsa e comecei a ensinar. Acabei criando uma técnica minha batizada de WF Style. Fiquei muito conhecido com as apresentações que fiz nas grandes redes de TV da Noruega. Acabei participando de dois filmes e dirigi outro. Nesse momento estou captando imagens do lugar onde nasci para fazer o meu segundo filme”, salientou.
A mistura de ritmos latinos com africanos criou uma nova dança muito apreciada pelos europeus. “Também estou ensinando a zumba que é o sucesso do momento no mundo inteiro. Sou o primeiro professor do estilo no Norte brasileiro”, afirmou.
Wagner se casou com uma das suas alunas, a norueguesa Marianne Bergius, de 32 anos, que atualmente é a sua auxiliar. Ela não esconde que sente ciúmes do marido muito popular entre as mulheres. “O trabalho é feito com 80% de público feminino e a gente precisa se acostumar”, conta.
O retorno
Antes de retornar a Noruega o professor de dança estará fazendo alguns works shops para meninos de ruas de Cruzeiro do Sul e também para pessoas idosas. “Quero ensiná-los a acreditem nos seus sonhos e lutarem por eles. Sempre há uma possibilidade de encontrar o caminho para transformar a vida. Por isso, vou ensinar aquilo que aprendi. A dança pode ser uma saí-da para quem está oprimido através da liberação e a apuração dos sentidos. Me sinto realizado por fazer o quê gosto e estar levando alegria para pessoas que vivem num país que na maior parte do ano é gelado”, finalizou.
Fonte – Nelson Liano Jr. Do Jornal Agazeta