A Superintendência Regional do Trabalho do Acre (SRT-AC) começará, em breve, mais uma campanha a favor da erradicação do trabalho infantil no Vale do Juruá. A iniciativa será aberta com uma operação de abordagem, nos principais pontos mapeados da região, com o propósito de identificar crianças e adolescentes que estejam sendo vítimas de exploração. As casas de farinha e o comércio ainda insistem em empregar a mão-de-obra infantil.
Para esta ação, o superintendente, Manoel Rodrigues de Souza Neto, explica que a DRT trabalhará, em parceria, com o Ministério Público Estadual (MPE), com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e com o Conselho Tutelar. “Sabemos que o trabalho infantil é um problema muito complexo para ser solucionado. Por isso, decidimos trabalhar com esta frente composta por representantes de diversos órgãos capacitados para atuar na questão” disse ele, acrescentando que haverá ações informativas e educativas sobre o assunto, através da divulgação de cartazes e panfletos explicativos.
Depois da escola é na casa de farinha, raspando mandioca, que as crianças moradoras da zona rural, passam a maioria do tempo. O trabalho que inicia aos quatros anos de idade se confunde com uma brincadeira infantil. O que mais impressiona é a habilidade dos pequenos com a faca ou o terçado, usados para descascar a mandioca.
Em Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo a atividade é comum.Alguns desses menores são obrigados a conciliar a jornada de trabalho com a escola e deixam de lado o tempo para as brincadeiras de criança. Não é difícil encontrar meninos e meninas fora da sala de aula ou que estão com baixo rendimento na aprendizagem.
Para os menores é comum acordar bem cedo, ainda de madrugada para acompanhar os pais no roçado, juntos arrancam a mandioca da terra e transportam até as casas de farinha, onde ocorre a raspagem e o preparo do beneficiamento. Chegam a carregar até 30 quilos de mandioca nas costas em sacos, durante longas caminhadas.
“O trabalho de fiscalização é permanente. Mas levar os filhos pra casa de farinha é uma cultura antiga. Para os pais, a farinhada é uma festa onde as crianças também participam. Este é o nosso maior desafio, vencer uma tradição familiar. Pai e mãe não compreendem isso como um risco social” diz o superintendente.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal