Com o fim do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural (Probor), na década de 80, o Acre se tornou, definitivamente, a economia do contracheque, do gramixó, da coivara, do cheiro verde. Uma década antes, tínhamos experimentado a alternativa pecuarista, que, além de trazer mazelas sociais, nunca ultrapassou 5% de arrecadação para a nossa combalida economia.
Para conter os problemas socioeconômicos causados no campo e na cidade, ao mesmo tempo em que criava uma alternativa econômica para o estado, o governo do professor Geraldo Gurgel Mesquita, implantou os Núcleos de Apoio Rurais Integrados, os Nari´s. Foi a primeira e única política agrícola implantada no Acre desde a sua constituição.
Com a chegada dos Viana ao poder, o petismo acreano, para cultuar imagens, criou e difundiu um engodo que responde pela alcunha de florestania. Apropriado indevidamente, o termo é uma metáfora alusiva à história bonita do povo acreano, que começou com os nossos ancestrais povos indígenas, passando pelos revolucionários nordestinos, e terminando com a resistência dos seringueiros (empates) nas décadas de 70 e 80.
A tal florestania, que nada tem a ver com sustentabilidade, sentenciou os acreanos a quase duas décadas de atraso econômico e social. O extrativismo nas reservas impediu as populações tradicionais de melhorar de vida, obrigando-as a viver de programas sociais como o Bolsa Família e o Bolsa Verde, dentre outros. Sem oportunidades, sem escolas de qualidade e assistência em saúde, todo o futuro de uma geração ficou comprometido.
Enquanto o Imac e o Ibama davam autorização aos poderosos, os pequenos produtores rurais eram perseguidos com multas confiscatórias. Portanto, além de ser um retumbante fracasso enquanto alternativa econômica, incapaz de gerar riquezas e distribuí-las, a florestania só beneficiou os grandes proprietários. Que o digam os pecuaristas e madeireiros.
O Brasil, mesmo fazendo parte do Novo Mundo, tem parte considerável de seu PIB oriundo do agronegócio. De dimensões continentais, o nosso território tem as condições naturais para se tornar a maior potência do planeta na produção e exportação de alimentos. Esse caminho é quase inevitável e já pode ser percebido na expansão das nossas fronteiras agrícolas.
O Acre, por sinal, é o único estado da federação que ainda não entendeu o quanto esse setor é estratégico. Saímos do extrativismo para o nada. O saudoso economista e escritor, Celso Furtado, defendia que a agricultura chegasse aos rincões para desenvolvê-los de forma exógena (de fora para dentro), ou seja, do interior para os grandes centros urbanos.
Assim dizia o velho mestre: “Se tivermos uma grande produção agrícola, nos alimentaremos melhor e o excedente vai para a exportação”. Óbvio que Furtado formulou uma bem definida cadeia produtiva, chamando-a de autodesenvolvimento ou agroindustrialização.
Concomitantemente, podemos investir naquilo que temos em abundância. O Vale do Silício, na costa oeste americana, desenvolve-se no meio do deserto. Eles montaram um parque industrial para empresas de tecnologia no meio do nada. Estamos em uma das regiões de maior biodiversidade de planeta. Podemos criar o “Vale Bio”, onde empresas das ramos de fármacos e cosméticos possam se instalar.
Assim, orientados pelo levantamento ecológico-econômico podemos desenvolver a nossa região. Ontem (14) fui à Exporacre Juruá. Tirando as praças de alimentação e bares, pouca coisa vi no tocante a negócios. A iniciativa do evento é bem vinda, mesmo porque somos “carentes” de opções de lazer. Portanto, membros desse carcomido governo, não se frustrem: a Exporacre Juruá é apenas um sintoma dessa economia insustentável.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal