João Silva Nascimento, conhecido popularmente por Todo Feio, compareceu à Delegacia de Polícia Federal durante a manhã desta sexta-feira (07). O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruzeiro do Sul foi procurado ontem por agentes federais que realizaram a operação denominada “Alexandrino” com o objetivo de apurar denúncias de fraudes na Previdência Social, supostamente com a participação do sindicato.
Todo Feio não estava na cidade no momento em que os policiais adentraram na sede do STR e recolheram computadores para a investigação. Segundo ele, estaria em comunidades rurais e só ficou sabendo da ação da polícia, no final da tarde quando retornou à cidade.
Assim que tomou conhecimento, ainda na quinta-feira, o sindicalista fez questão de se dirigir a sede da PF, no entanto, não teve como conversar com o delegado responsável pela operação, pois chegou fora do horário de expediente. Hoje pela manhã João Nascimento retornou bem cedo, antes mesmo da chegada do delegado, ele já aguardava para ser atendido.
Todo Feio afirmou que está com a consciência tranquila e negou qualquer envolvimento com o esquema que fradava benefícios da Previdência. “Estou aqui totalmente à disposição para prestar qualquer esclarecimento. Até porque, nós também estamos interessados no resultado desta investigação, pois são os nossos produtores que estão sendo lesados. Na realidade sempre tivemos foi muita dificuldade para conseguir os benefícios para os trabalhadores rurais, pois na maioria das vezes têm seus pedidos negados. Então, não existe nenhuma possibilidade de termos facilitado para que pessoas tivessem acesso aos benefícios da Previdência” – justificou Nascimento.
Depois de prestar depoimento, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruzeiro do Sul foi liberado.
A investigação
A Polícia Federal, em ação conjunta com o Ministério da Previdência Social, cumpriu na manhã de quinta-feira (06) vinte e dois mandados de busca e apreensão em Cruzeiro do Sul e Rio Branco. A ação, resultado de uma investigação iniciada em 2012, tem por objetivo desarticular organização criminosa que, pelos menos desde 2010, vinha fraudando benefícios da Previdência Social.
Estima-se, em análise preliminar de 90 benefícios irregulares, que as fraudes podem ter rendido até R$ 2 milhões, no entanto, o prejuízo causado pelo grupo pode superar a marca dos R$ 4 milhões.
As fraudes do grupo consistiam no reconhecimento, ideologicamente falso, de relações de paternidade por parte de detentos, visando a obtenção fraudulenta de auxílio-reclusão: normalmente eram escolhidos presos com muito tempo de pena cumprida, gerando pagamento de retroativos na ordem de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) cada. Para o salário-maternidade, eram cooptadas mulheres sem qualidade de segurado, oportunidade em que, com auxílio de sindicatos locais, era forjada situação de trabalhadoras rurais para terem o benefício concedido.
O esquema veio à tona a partir de declarações de diversas “seguradas” que foram lesadas, narrando que, quando da concessão dos benefícios, teriam que repassar elevados valores a servidores do INSS e agenciadores. Há ainda o envolvimento de atravessadores (agenciadores), responsáveis por angariar populares para as fraudes.
Tribuna do Juruá