A ONG SOS Amazônia vai dá, a partir de fevereiro de 2014, assistência técnica e extensão rural para os moradores da Reserva Extrativista do Alto Juruá (Resex). O projeto, que vai atender 1.400 famílias, é financiado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com ICMBio e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria (Incra). É a primeira vez que o governo federal faz este tipo de investimento em área protegida.
A proposta é uma reivindicação antiga do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e contempla, ainda, as Resex´s Cazubá-Iracema e Chico Mendes. “Estamos apenas prestando o serviço. Os executores do projeto é são o Mapa e Incra”, esclareceu o coordenador regional da entidade, Miguel Scacello. “Até fevereiro, quando sair a ordem de serviço, vamos treinar as equipes”, completou ele.
Scacello disse também que a SSO Amazônia está fazendo um levantamento e conversando com lideres na região para, segundo ele, compartilhar o planejamento e execução do projeto. “Queremos introduzir o conceito de agroecologia, redução do uso do fogo e desmatamento, além da organização social”, almeja o coordenador, que quer criar cadeias produtivas fortes para produtos extrativistas como o murumuru e o cacau nativo.
Histórico
A ocupação do Acre, iniciada no século XIX, começou a extração do látex e a busca de outros produtos da floresta com valor de venda no estrangeiro. Com a falência de seringalistas e companhias importadoras e exportadoras de Manaus e Belém, os antigos empregados e gerentes passaram a operar o comércio itinerante como patrões locais e alguns deles residindo na mesma área que antes trabalhavam. As importações de alimentos foram substituídas pela produção local de farinha e outros produtos. Os seringueiros passaram a formar famílias maiores, dedicando-se à caça, à pesca e à coleta de outros produtos da floresta. A venda desses produtos era feita através dos patrões locais, ou através de regatões.
Com a Segunda Guerra Mundial, surge no mercado a borracha sintética, substituindo parcialmente a borracha natural. Na Amazônia, entre 1943 e 1985, o governo federal passou a apoiar e a estimular diretamente a borracha dos seringais nativos e o preço passou a ser administrado.
Nessa mesma época, Incra validou os títulos de terras no Acre. Os bancos federais financiaram os seringalistas com taxas de juros subsidiados. Essa política não beneficiava os seringueiros, mas gerou uma reação do setor industrial contra toda a atividade extrativa.
Em 1985, quando a inflação atingiu os dois dígitos mensais, o governo abandona a política de sustentação dos preços reais da borracha natural. Os adiantamentos a longo prazo são suspensos. Os seringalistas daquela região passam a se interessar pela extração madeireira. Em 1986 foi criada uma expedição de cobrança de dívidas com o apoio de policiais, provocando revolta dos seringueiros e moradores do rio Tejo e do seringal Restauração, que de pronto realizaram uma manifestação, cujo resultado foi a saída dos policiais da área. Nesse mesmo ano e no ano seguinte os seringueiros ficaram muito apreensivos com as pesquisas sobre o potencial madeireiro e os contatos preliminares para a instalação de infraestrutura. Esse foi o contexto imediato para o projeto de criação de uma Reserva Extrativista na área, ideia ventilada pela primeira vez em 1987, em reuniões sindicais no seringal Restauração, quando o Conselho Nacional dos Seringueiros havia incluído em seu calendário de atividades um encontro dos seringueiros na microrregião.
Em 1988, com o início da atuação do CNS na microrregião do Alto Juruá é realizado um levantamento preliminar na bacia do rio Tejo e é elaborado o projeto para criação da primeira Reserva Extrativista do Brasil. A Procuradoria Geral da República, em 1989, solicitou à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a qualificação ecológica da região e, em 23 de janeiro de 1990, o Governo Federal através de Decreto nº 98.863, criou a Reserva Extrativista do Alto Juruá.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal