POR JAILTON DE CARVALHO
Relatório da Polícia Federal informa que os deputados Taumaturgo Lima (PT-AC) e Fernando Torres (PSD-BA) usaram notas fiscais de duas empresas da organização do doleiro Fayed Traboulsi para justificar despesas da atividade parlamentar e pedir reembolso à Câmara dos Deputados. Segundo a PF, Lima obteve ressarcimento de R$ 77 mil, e Torres, de R$ 14 mil, a partir de notas emitidas pela MC Incorporação e pela Gold Incorporação.
As duas empresas estão no centro da estrutura de lavagem, supostamente montada pelo grupo de Fayed, para um esquema de fraude em fundos de pensão. Os nomes dos deputados aparecem em relatório da Operação Elementar, investigação conduzida pela PF e pelo Ministério Público. Essa parte do processo ainda não foi remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF), foro de investigação de parlamentares e que já recebeu informações sobre o suposto envolvimento de outros três deputados.
Lima teria usado notas da MC Incorporação e Consultoria, entre fevereiro e agosto de 2011, para reembolsar despesas de aluguel de carros e embarcações. Durante esse período, o deputado alega ter gasto em média R$ 9.500 com transporte. Mozart Medeiros Filho, um dos ex-assessores do deputado, está entre os investigados. Lima diz que já demitiu o assessor.
Segundo relatório do MP-DFT, Mozart “recebeu valores oriundos de contas bancárias de titularidade das empresas Master Tecnologia e Sistemas, MC Incorporação e Consultoria e Gold Consultoria”. Só de uma das empresas, o assessor teria recebido R$ 19 milhões.
As notas de Fernando Torres são referentes a transporte e segurança. O deputado disse que fez dois contratos com a MC, uma para o aluguel de dois carros por três meses, e outro de segurança pessoal. O deputado alega que cancelou o contrato de aluguel de carros no primeiro mês, que teria custado R$ 10 mil. Outros R$ 4 mil, em notas, seriam relativos a serviços de segurança.
Taumaturgo Lima confirma que contratou serviços das duas empresas, uma para fazer o site dele na internet, e outra pelo aluguel de dois carros. O deputado disse que fez o contrato por sugestão de um assessor. Ele sustenta, no entanto, que não conhece Fayed.
Outro documento da PF cita o nome de pelo menos seis parlamentares, um deles do ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). O nome de Sarney foi citado por um dos investigados na operação. Não há gravações de conversas do senador. Segundo uma autoridade que acompanha o caso de perto, não há indicação de que o senador soubesse que estivesse sendo citado. Procurado pelo GLOBO, por intermédio da assessoria de imprensa, Sarney disse que não conhece Fayed, nem a ex-secretária Flávia Peralta, funcionária do Senado investigada pela PF.
Jailton de Carvalho é repórter do jornal O Globo