O prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales (PMDB), compareceu à Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) nesta quarta-feira (3) para dar explicações sobre os altos números da dengue no município. Sales foi convocado pela deputada estadual Eliane Sinhasique (PMDB) para falar sobre a doença após ter sido chamado de “criminoso e de omisso” pelo governador do Acre, Tião Viana, durante entrevista concedida no jornal Bom Dia Amazônia, no último dia 26. O prefeito rebateu as críticas e disse que o governador usou a situação da dengue para fazer campanha durante as eleições de 2014. Segundo ele, o município pediu ajuda ao governo, mas não foi atendido.
“Eles vieram para Cruzeiro do Sul e disseram que iam assumir, eu até dei graças a Deus. Vieram com dois carros fumacê, falaram que o município não estava fazendo um bom trabalho, meteram o pau no prefeito. Depois que acabou a campanha, levaram tudo embora. Usaram a dengue em Cruzeiro do Sul apenas para fazer campanha”, disse.
O prefeito de Cruzeiro do Sul falou ainda que quando assumiu a responsabilidade da dengue no município, em fevereiro de 2014, Cruzeiro do Sul já estava com situação de risco iminente da dengue.
“Quando assumi, os dados já apontavam o risco de epidemia de 4,2% de residências afetadas. Sete dias após eu assumir, apareceu o primeiro caso de dengue confirmado, comunicamos imediatamente o estado e a Secretaria de Saúde Estadual. Tive que trabalhar uma cidade que já estava infestada. Eles [governo] já entregaram o município infestado”, disse.
O gestor afirmou que quando teve que assumir a responsabilidade da dengue no município, perguntou qual era a estrutura que ele teria para combater a doença e pediu ajuda do governo. “Quando perguntei qual a estrutura, recebi sete lanternas, seis martelos, sete calculadoras, seis bacias, sete trenas, sete colheres, sete espelhos e sete máscaras. Aí eu pergunto: como vou matar o mosquito da dengue com martelo?”, indagou o gestor municipal.
Sales acrescentou que após a insistência do estado para ele assumir a situação da dengue e da malária, ele enviou um ofício para o governo para pedir treinamento de pessoal para lidar com a doença.
“Recebemos uma negativa e tivemos que contratar técnicos e profissionais que estavam preparados para atender a demanda. Nós que tivemos que treinar o pessoal. As capacitações foram negadas pelo estado. Um técnico do governo federal foi enviado para Cruzeiro do Sul e ele identificou que estávamos fazendo tudo certo. Pedimos ajuda do Ministério da Saúde e fomos informados que não tinha verba para ajudar”, acrescentou.
O prefeito de Cruzeiro do Sul informou também que chegou a encaminhar um projeto ao governo federal pedindo a quantia de R$ 2,5 milhões, mas recebeu apenas uma pequena parte dos recursos, R$ 200 mil. “Como um município que gasta R$ 240 mil por mês recebe R$ 200 mil?”, criticou.
Coordenador rebate declarações
Presente na Aleac, o coordenador regional de Saúde no Juruá, Itamar de Sá rebateu as declarações de Sales apontou uma série de ações que teriam sido realizadas pelo governo do estado para apoiar a crise no município.
“Ele fala das lanterninhas e dos martelos, mas esquece de dizer que em novembro de 2013 caiu na conta da prefeitura de Cruzeiro do Sul R$ 229.170 para que ele começasse a se estruturar, para poder fazer o enfrentamernto da dengue. O que foi repassado para a prefeitura, foi aquilo que o estado utilizava para fazer o monitoramento do vetor”, disse.
Entenda o caso
Cruzeiro do Sul decretou epidemia de dengue no dia 8 de setembro do ano passado. No dia 24 de março de 2015, a segunda maior cidade do Acre informou que havia saído da situação de epidemia. No entanto, apenas este ano, a cidade registrou 3.957 casos confirmados de dengue.
Entraram na estatística da cidade três mortes por dengue hemorrágica, do final de 2014 até maio deste ano. Os dois primeiros casos foram registrados em novembro de 2014 e os nomes das vítimas não foram divulgados. Já o terceiro caso ocorreu no dia 17 de janeiro de 2015. A vítima era o estudante Ednaldo dos Santos Silva, de 21 anos.
No dia 4 de maio de 2015, o Ministério da Saúde divulgou um relatório sobre a dengue no Brasil, em 2015. De acordo com os dados, entre 1º de janeiro e 18 de abril deste ano, o país registrou 745,9 mil casos de dengue. O Acre foi um dos sete estados listados em situação epidêmica com 1064,8 casos para cada 100 mil habitantes. A classificação mínima de epidemia é de 300/100 mil habitantes, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com a Secretaria de Saúde do Acre, a inclusão do estado na lista é reflexo da situação em Cruzeiro do Sul. A Saúde do município, por sua vez, diz que a culpa da situação é da população que não tem apoiado as ações de combate do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue.
Fonte: Aline Nascimento do G1