Os meses de junho e julho foram marcados por centenas de manifestações de rua em capitais e cidades do interior do Brasil. Em todos os lugares, a juventude e os trabalhadores deram um belo exemplo de que o Brasil é, sim, um país com muita luta social. As reivindicações foram de uma série de temas, desde pautas trabalhistas históricas, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário, até questões atuais ligadas aos direitos humanos.
Mas, certamente, uma pauta que as mobilizações de rua recolocaram na agenda pública foi a reforma política. Críticas ao financiamento privado de campanhas, a pouca participação social nas definições de interesse do país e ao mau uso dos recursos públicos estiveram pulsantes nos atos públicos nos quatro cantos do país. Nas redes sociais e nas ruas, a sociedade reivindicou e continua a reivindicar uma nova forma de pensar e de fazer política.
Em sintonia com esse momento histórico que atravessa o país, os partido políticos, sobretudo os tidos como progressistas, precisam envolver a população na discussão sobre a reforma política, por entender que esse é um tema fundamental para “democratizar a nossa democracia”, como bem diz um pensador contemporâneo.
É preciso reunir uma série de entidades da sociedade civil e buscar pautar, junto à população, a necessidade de uma reforma ampla que garanta maior participação popular na política nacional.
O poder econômico não pode continuar definindo os rumos do país. Este poder todo é construído e alimentado pelo sistema de financiamento das campanhas, que permite o financiamento das empresas. Estas oferecem hoje para ganhar em dobro amanhã. Uma reforma política deve ir além de questões eleitorais. O poder não pode ser fonte de privilégios sejam pessoais ou para determinados grupos. Precisamos construir o poder popular.
As mobilizações evidenciaram, acima de tudo, a crise das instituições da democracia representativa. A reinvenção da política é fundamental. Este é o momento para criar outro modo de pensar e fazer política, atentando para que não se constitua em mera atividade administrativa do Estado, mas seja derivada das ações compartilhadas de cidadãos inseridos numa realidade dialógica e plural, na qual a liberdade e vida plena sejam a razão da política.
A conexão entre reforma política e democratização dos meios de comunicação também se faz necessária. A população brasileira não se vê mais representada nos meios de comunicação, sendo a democratização da mídia o único caminho para a ampliação da diversidade de vozes e do pluralismo de ideias no rádio e na televisão.
A complexidade, diversificação e fragmentação das formas de manifestação do Estado e da sociedade civil têm se apresentado como tema de debates e inquietações na realidade contemporânea. Expressão do desenvolvimento capitalista das últimas décadas, tais categorias passaram a ser utilizadas tanto para fortalecer a participação política da sociedade quanto para justificar os programas de ajuste neoliberal nas diferentes agendas governamentais e despolitizar as ações dos sujeitos históricos que funcionavam como vetores de unificação social. Recuperar a relação dialética entre Estado-sociedade civil é tarefa que se impõe a todos aqueles que acreditam na construção de um novo projeto de sociedade.
Tribuna do Juruá – Jorge Natal